Post em homenagem ao Dia da Terra! Segue minha visão de tudo isso:
O cérebro humano tem uma altíssima capacidade de pensamento sistêmico, o que faz com que aprendamos as coisas em um ritmo altamente acelerado, por pegarmos partes isoladas de um todo, compreendermos o todo e passarmos a agir condicionados a isso. Tomemos como exemplo quando aprendemos nosso primeiro idioma, ainda nos primeiros anos de vida, apenas ouvindo palavras e frases isoladas, e passando a compreender toda a dinâmica gramatical e fonética da língua.
Isso funciona muito bem no âmbito do indivíduo, mas é notável que a eficiência desse pensamento despenca no âmbito coletivo. Apesar da nossa alta capacidade de trabalhar em equipe, esse processo de aprendizado se torna lento e difícil, pela complexidade em fazer com que todos os indivíduos vejam e acreditem nas mesmas partes, e trabalhem pelo mesmo todo.
Como disse Karl-Henrik Robert, no livro “The Natural Step”, “o pensamento sistêmico parece ter menos a ver com ensinar alguma coisa ao indivíduo e mais com ensinar aos grupos sobre o que parece inteiramente óbvio ao indivíduo”
E qual a importância de entendermos o mesmo todo, por meio de todas as suas partes? Como já descrito nos conceitos da Antroposofia, por Rudolf Steiner, nós humanos funcionamos em três níveis: do pensar, do querer e do agir. E por tanto, tomamos atitudes que sejam condizentes com o que pensamos e entendemos, e com o que temos como objetivo.
E é justamente aplicando esse conceito ao âmbito coletivo e organizacional, que as empresas têm desenvolvido suas estratégias de branding, identificando a essência de sua marca, sua visão de mundo e seus valores, e fazendo com que todos os públicos envolvidos entendam isso e compartilhem da mesma visão. Esse pensamento sistêmico, a longo prazo, reduz os custos de passivos para a empresa, otimiza seus processos agora alinhados, e a sustenta ao longo do tempo. Faz todo o sentido se lembrarmos que as empresas, organizações e comunidades são formado por indivíduos, que agem melhor quando pensam, sentem e querem o que estão vivendo.
E por que raios estou falando tudo isso em um post sobre desenvolvimento sustentável? Porque eu acho que esse é o grande problema da sustentabilidade no Brasil hoje!
Considerando que sustentabilidade é um conceito sistêmico, que engloba aspectos econômicos, sociais, e ambientais de todos nós, para sua valorização e desenvolvimento é preciso que cada um de nós compreenda exatamente do que estamos falando. E mais do que isso: acredite nisso como verdade absoluta!
Para mim, o grande problema do Brasil hoje, é que as pessoas não compreendem nem compartilham dos mesmos valores como cidadãos, e ainda não compreendem do que estamos falando quando defendemos o desenvolvimento sustentável. E nós não cansamos de desenvolver milhões de ações paliativas, pontuais ou contínuas, midiáticas ou tímidas, que sempre se perderão no tempo, pois não constituem um todo que faça sentido internamente para cada um dos indivíduos por elas impactados. E por isso, hoje merecem ser borrifadas!
Não estou dizendo que essas ações não têm valor, pelo contrário. Elas têm um valor potencial que será desperdiçado enquanto não houver a conscientização de cada um de nós.
Sustentabilidade não é sobre plantar árvores pelos sabões vendidos, mas sim sobre como produzir, comercializar, consumir e se desfazer do sabão de uma forma que minimize os impactos ambientais, sociais e econômico destas atividades, garantindo o equilíbrio dos recursos necessários para tais, de forma que elas possam continuar acontecendo a longo prazo.
Não é sobre pedir que você apague as luzes durante uma hora, sem nem saber porque, enquanto naquela mesma noite você vai deixar o seu computador ligado e vai jogar o óleo de cozinha pelo ralo.
Sustentabilidade não é sobre pedir que você consuma de maneira consciente, ou que você recicle todo o lixo produzido em sua residência, ou que você ande menos de carro, é sobre fazer com que seus valores e sua visão enquanto cidadão torne cada uma dessas atitudes naturais e óbvias.
Tomamos como exemplo uma Jam Session (reunião de músicos que tocam e improvisam). Todos os músicos ali presentes tem conhecimento sobre harmonia, rítmica e melodia, e sabem qual a tonalidade da música que estão tocando. Isso faz com que eles improvisem a vontade, sempre respeitando aquele tom. Ninguém precisa dizer a eles o que fazer, ou incentivar que eles respeitem determinados acordes, pois todos eles estão ali com o mesmo objetivo, respeitando a mesma harmonia, o que faz com que o respeito aos acordes da música seja conseqüência natural e óbvia para eles.
Para mim, esta é a grande barreira do desenvolvimento sustentável no Brasil hoje: as pessoas são convidadas o tocar todo o dia, e ordenadas a respeitar determinados acordes, enquanto na verdade, a grande maioria não sabe a tonalidade da música que estão tocando.
Principais fontes de inspiração:
The Natural Step – Karl-Henrik Robert
O Espírito Transformador, A essência das mudanças organizacionais no século XXI – Jair Moggi e Daniel Burkhar
Tati, ótima reflexão. Pro futuro, um conto zen pra vc:
ResponderExcluir"Antes de estudar o Zen, montanhas são montanhas e água é água. Depois de vislumbrar a Verdade, montanhas não mais parecem montanha e água não é água. Mais tarde, quando de atinge de verdade a iluminação, as montanhas outra vez são montanhas, e água é água."